You are currently viewing O meu tempo na escola

O meu tempo na escola

Eu sou Filipe Muatocuene, nasci em Setembro de 1989 na cidade de Quelimane, província da Zambézia em Moçambique (África). Venho de uma família muito humilde. O meu pai, para além de camponês, é pastor aposentado na Igreja Evangélica de Cristo em Moçambique, minha mãe que infelizmente morreu quando eu tinha apenas 14 anos era também Camponesa. Ambos, para além de trabalhar para o Senhor, também trabalhavam arduamente na machamba cultivando a terra para que não faltasse pão na mesa para a família. Quero de uma forma resumida contar uma pequena História de como foi a minha vida na escola.

Como eu antes dizia, o meu pai é pastor aposentado na Igreja Evangélica de Cristo em Moçambique, a minha vida na escola esta dividida em tres partes.

Com isso quero dizer que fui na escola em 3 distritos diferentes nomeadamente: Distrito de Mocuba, Ile e Gurué até eu terminar a minha 12ª classe factor este que deveu-se a transferência dos meus pais de uma paróquia para outra e a última vez foi porque no distrito onde nos vivíamos a minha classe não existia. De 1ª classe até a 3ª classe estudei em Mocuba. De 4ª classe até 10ª classe estudei no Ile Errego, e de 11ª classe até 12°classe em Gurue.
Quando me recordo sobre o meu tempo na escola, muita das vezes me recordo o que passei coisas erradas, e não o que aprendi. E me recordo apenas 3 momentos lindos que eu tive durante a minha vida na escola: O primeiro momento, me recordo muito bem na escola primária 1 de Junho no distrito do Ile, quando chegávamos no final das aulas cantávamos o seguinte: A nossa aula já acabou agora vamos para casa, e no final dizíamos todos em corro: Adeus Sr/a Professor/a, até amanha de manha. Quem é Moçambicano e esta a lendo isto se recorda ou sabe muito bem do que estou falando. O segundo momento é quando um dia fizemos um sumo de limão na nossa sala de aulas, este momento foi inesquecível. O terceiro momento foi no final do ano, quando vinham todos os Pais e encarregados de Educação, a comunidade se dirigia para a escola ansiosamente para saber os nossos resultados, foi um dos momentos mais marcantes para mim, quando eu recebia a notícia dos meus resultados positivos que me levavam a passar de classe pesa embora eu tivera chorado algumas vezes quando eu reprovava de ano.
Como eu disse, no principio, me recordo de coisas erradas quando eu ia a Escola com a camisa e as calças rasgada e as vezes com o pé descalço, ou então com um par de sapatos com dois pés totalmente diferentes, o famoso Sábado e Domingo. Embora não focem semelhantes, não tinha tanta importância para nós, o importante foi que nós tínhamos alguma coisa para vestir. Isso porque as vezes o sol era demasiadamente quente, então, ao em vez de queimar os nossos pés, sentíamo-nos felizes em ter alguma coisa nos pés que nos pudesse proteger do aquecimento.
Logo que chegássemos de manha na escola a nossa primeira missão era de varrer e organizar a sala aonde nós recebíamos as aulas, as vassouras nós tínhamos que ir procurar no mato ou então trazer mesmo de casa.
De seguida íamos a concentração onde o nosso Director de Escola vinha e controlava quem tomou banho ou não, quem penteou o cabelo ou quem não penteou. Dai éramos separados os limpos dos sujos, em seguida vinham as sanções que eu vou nomear e depois seguia-se a entoação do Hino Nacional. No final chamavam por classe e íamos todos organizados em filas para as turmas.
E nos Sábados estávamos obrigados a ir a escola, não para estudar mas sim para trabalhar (actividades). Cavamos latrinas para a escola, trazíamos capim de casa para servir de construção de casas de banho ou as vezes íamos trabalhar nas casas dos professores. Existia uma série de trabalho durante todo o ano que eu não vou conseguir citar aqui.

Aquele todo que tropeçasse uma das leis ou regulamento interno da escola, dadas pelo professor ou o Director, era chicoteado nas mãos, ou tínhamos que tirar a camisa e o director passava dar palmatorias a cada um que não respeitasse o regulamento. Tinham regras, para cada coisa. Cada mão 10 vezes e nas costas depois de tirar a camisa 1 vez. Quem não fizesse o trabalho de casa ou chegasse atrasado a escola, os nossos professores batiam-nos nas mãos 10 vezes, com as varas que nós trazíamos de casa, eles nos mandavam trazer as varas alegando que tinha que apontar com ela no quadro, mas na verdade era para ambos objectivos. E as vezes dependiam do professor, nos tínhamos que apanhar pedrinhas e ficarmos de joelhos por cima delas e de braços levantados. Se estivéssemos cansados e abanar os braços e o professor ver, então ele vinha com a vara e nos batia. O pior é que fazia isso dentro da turma para todos verem, para te envergonhares bem.

Mas por um tempo já era normal para todos. No princípio foi uma coisa muito triste, e ninguém falava na turma, éramos obrigados a falar. Quando eu falo de turma você deve estar a imaginar uma classe da sua escola, ou da sua cidade. Não, eu estou a falar de uma sala com algumas pedra ou blocos que nós sentávamos.
Nós encostávamos o caderno nas pernas e escrevíamos a partir de lá.

Nos sentíamo-nos obrigados a mentir e ficar em casa, alegando que estávamos doentes quando não fazíamos os trabalhos de casa, isso porque não tínhamos quem nos podia ajudar, então tínhamos sempre dores da barriga inventada e as vezes tinhamos mesmo dores de barriga em pensando que amanha tenho que ir a escola, as vezes dizíamos que íamos a escola mas na verdade íamos ao rio Namurauane nadar ou fazer o famoso “hereneya”, que era feito numa pedra onde tinha água e nos escorregávamos de lá. Isso foi mais divertido que irmos a escola.

Da 8ª classe até a 12ª classe as coisas melhoraram bastante, as sanções já não eram corporais mais psicológicas, os professores insultavam-nos muito, expulsaram-nos da turma e até chegarem o ponto de nos mandar chamar os nossos encarregados de educação. As vezes preferíamos levar os nossos tios porque quando levávamos os nossos pais lá, quando chagávamos em casa eram também palmatorias.

Esta foi mais ao menos a minha história da minha vida na ascola. E ate hoje que escrevo esta carta, temos muito respeito dos nossos professores. Quando um professor passa ao pe de mim e eu estiver sentado, estou obrigado a ficar de pe e ele pessoalmente é que nos pode mandar sentar, isso tudo para mostrar o nosso respeito.

Quando eu ainda estava aqui na Alemanha recebi a visita do meu pai onde ficou 3 meses, e eu perguntei lhe como foi o tempo dele na escola, certifiquei que foi muito diferente e que segundo ele, nos não passamos nenhum sofrimento.

Este tempo que eu fui a escola, da 1ª classe até mais ao menos 7ª classe, já não se passava muito tempo que os Portugueses saíram de Moçambique. Os nossos professores e pais tiveram ainda aquele trauma da guerra. Desde a educação, hábitos e costumes eram dos Portugueses, isto porque os Portugueses é que colonizaram Moçambique meu país, é por isso mesmo que os nossos professores eram muito agressivos porque eles também sofreram bastante. E se hoje me perguntam, se eu tenho rancores daqueles professores direi que não, isso por uma simples razão: Eles não sabiam qual foi a melhor educação que eles podiam dar, eles pensavam que agindo daquele jeito seria a melhor opção.

Mas pela graça de Deus estamos aqui para rectificar e mudar de cenário no processo de ensino aprendizagem no país que me viu nascer.

Deixe um comentário